quarta-feira, 19 de outubro de 2011

existencialismo de sartre

O existencialismo de Sartre postula que o homem não é um “ser emsi”,

não é um objeto inanimado como as coisas no mundo. Só as coisas

são em-si. O homem é um “ser para-si”, pois tem consciência de si

mesmo. O homem é um ser da liberdade, da escolha. É aquele que

deseja e escolhe o que deseja. Mas não se trata de obter o que se quer,

mas desejar com a alma, com discernimento, com autonomia,

determinar-se a querer por si mesmo. Dessa forma, o homem nada é,

mas torna-se o que se é quando constrói sua própria liberdade e,

portanto, sua própria essência.

É notório que em nossa época o homem moderno não escolhe

autenticamente a vida que quer levar. Ele assume compromissos sociais,

morais e religiosos que geralmente não pode cumprir. Por escolher mal

ele paga um preço muito alto, pois não consegue se libertar de suas

escolhas e fica angustiado. Para Sartre a angustia surge da consciência

de nossa liberdade, surge da responsabilidade por nossos atos. “É na

angústia que o homem toma consciência de sua liberdade (…) na

angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em

questão”. (SARTRE, 2002, p.72). Dessa forma, a angústia resulta da

revelação da nossa própria liberdade sem peias, limitada apenas por si

mesma, fonte absoluta de todo sentido. Mas esta liberdade “só é

descoberta reflexivamente, quando, engajado no mundo, em vez de

realizar meus possíveis (se se quiser, meus fins ou meu futuro), eu os

aprendo como meus” (MOUTINHO, 2003, p.77)

Sartre diagnosticou em nossa época que a maior parte dos seres

humanos preferem não ser livres. O homem prefere a não-liberdade do

que sentir a angústia de escolher sua própria liberdade. Alguns homens

prendem-se a riquezas, outros a fama. Uns levam o peso de seu orgulho,

outros o peso da solidão. Uns prende-se ao casamento, outros a

religião. Um curva a cabeça ao seu chefe, outro a familia. Só para

exemplificar, hoje em dia nós vemos uma grande parte dos casais

vivendo juntos sem amor, apenas se suportando. Isso por causa dos

filhos, por causa dos bens ou mesmo por dependência psíquica em

relação ao outro. A vida torna-se insuportável. O resultado são as brigas,

as traições, a ansiedade, as compulsões e as neuroses. Também há

profissionais que fazem a mesma atividade e odeiam o que fazem, são

incapazes de mudar de vida. Ficam na mesma profissão por anos a fio,

mesmo odiando o que fazem. É um desperdício das capacidades físicas,

intelectuais e da criatividade. A explicação de Sartre para estes

problemas está na angústia da escolha. O homem tem medo da

liberdade. Para muitos seres humanos a liberdade gera a angústia.

Muitos não suportam esta angústia e para não assumir a liberdade,

fogem dela. São incapazes de escolher. São homens da má-fé. A má-fé é

a atitude característica do homem que não é capaz de escolher. Este

tipo de homem aceita passivamente sua situação, pensa que sua vida é

assim porque Deus quis e que não pode mudar seu destino. Ele aceita

os valores, normas e regras da tradição passivamente sem nunca

refletir sobre elas. Ele engana a si mesmo e pensa que é dono de seus

atos.

O exemplo de má-fé no amor é bastante ilustrativo. Para Sartre a

união amorosa é um conflito irreconciliável, já que assimila a própria

individualidade e a do outro em uma mesma transcendência. Em

conseqüência disso, implica o desaparecimento do caráter de um dos

dois. Quem ama limita a liberdade alheia, apesar de respeitá-la. Dessa

forma, no amor a atitude da má-fé acontece quando o indivíduo está com

alguém há anos sem sentir amor, mas por questões morais, religiosas ou

por gratidão, fica assim mesmo com a pessoa. Ele não a ama, mas

dissimula para si mesmo que a ama. Ele não quer fazer uma escolha

pela qual teria que se responsabilizar. O indivíduo recusa a dimensão do

para-si e torna-se em-si. Ele é um objeto, uma coisa, o puro nada. É o

homem responsável que recusa sua liberdade e se torna um ser

conformado.

Quando não temos convicção sobre o que realmente desejamos e

sentimos, somos levados a desejar e a querer o que a sociedade ou

grupos nos inculcam. A ambição e as metas que temos não são nossas,

mas aprendemos e a adquirimos de outros. Lutar pelo êxito financeiro,

procurar ser um profissional bem sucedido, ter fama ou poder para

sermos amados e admirados torna-se uma ilusão. O resultado disso é a

ansiedade, o vazio interior e a solidão. Quando os verdadeiros

sentimentos e desejos se perdem surge a apatia e a resignação. A vida

torna-se fútil, sem emoções e os sonhos perdem sua importância. Esse

medo e incapacidade de escolher nos leva ao vazio. O vazio vem do

sentimento do nada que experimentamos. A pior coisa que pode

acontecer a um homem é o nada. O nada é o não-ser, o não se realizar, o

não querer mais, é o cansaço e a impotência.

MOUTINHO, Luiz D.S. Sartre:Existencialismo e Liberdade. São Paulo:

Moderna, 2003

SARTRE. J. L’Existentialisme est un humanisme. Paris: Gallimard. Col.

Folio. 1996

SARTRE. J. O testamento de Sartre. Paris: 1980. L&PM, São Paulo, p. 17-

64. Entrevista concedida a Benny Lévi para Nouvel Observateur

SARTRE, J. P. O Ser e o Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica, trad.

Paulo Perdigão Petrópolis: Vozes, 2002

ALUNOS EJA 2011 -

Tolerância- Em torno de um conceito

(em construção !)

Conceito de Tolerância

A palavra tolerância, provém da palavra
Tolerare que significa

etimologicamente sofrer ou suportar pacientemente. O conceito

tolerância radica numa aceitação assimétrica de poder: a) Tolera-se

aquilo que se apresenta como distinto da maneira de agir, pensar e

sentir de quem tolera; b) Quem tolera está, em princípio numa

posição de superioridade em relação aquele que é tolerado. Neste

sentido pode ou não tolerar.

A tolerância pressupõe sempre um padrão de referência, as

margens de tolerância e aquilo que se assume como intolerável.

A tolerância pode surgir como a simples aceitação das diferenças

entre aquele que tolera e o tolerado, ou como a disponibilidade do

primeiro para integrar ou assimilar o segundo.

Fundamentação

A fundamentação da tolerância tem variado bastante ao longo dos

séculos. Mas em que sentido podemos falar de tolerância? Será a

tolerância uma exigência moral? Teológica?

Quatro perspectivas essenciais sobre a fundamentação da

tolerância.

1. A Tolerância como Prudência.
Pode tolerar-se por mero calculo,

tendo em vista, por exemplo, evitar conflitos quando não se têm a

certeza quanto ao desfecho final dos mesmos. Pode também

tolerar-se posições contrárias quando não se tem a certeza sobre

algo.

2

.A Tolerância como Indiferentismo.
Pode tolerar-se por uma

questão de princípio relativista. Se aceitarmos que não existem

verdades absolutas, então todas as posições se tornam legítimas e

aceitáveis. Pode tolerar-se também devido há ausência de

convicções e valores próprios. Neste caso aceita-se as ideias do

Outro não por respeito, mas porque não se possui nada para opor

ou defender. Nesta perspectiva, a tolerância terminar quase

sempre no indiferentismo, onde a verdade e a mentira se

equivalem.

3

. A Tolerância como Culto das Diferenças.
Podemos ser tolerantes

por respeito pelas diferenças do Outro. Nas nossas sociedades,

este tipo de tolerância manifesta-se frequentemente em relação a

duas situações muito distintas: a) Aceitam-se e respeitam-se as

diferenças daqueles que outraora foram discriminados, como os

homossexuais; b) Aceitam-se e respeitam-se todas as culturas que

antes foram discriminadas ou combatidas. Neste último caso, a sua

negação é assumida como um empobrecimento da diversidade

cultural da humanidade. Este princípio tem servido tanto para

fundamentar o multiculticulturalismo como o racismo e a xenofobia.

Na verdade a aceitação da identidade cultural do Outro não

significa que o aceitamos como igual, nem sequer que aceitemos

conviver no mesmo espaço."Iguais, mas separados" é, não nos

podemos esquecer, um dos novos lemas do racismo.

4

. A Tolerância como uma exigência dos Direitos Humanos.
Desde

a antiguidade clássica que a especulação sobre a natureza

humana se traduziu na afirmação de que todo o ser humano possui

um conjunto de direitos fundamentais ou naturais imutáveis:

liberdade, dignidade, etc. Baseado neste pressuposto, John Locke,

por exemplo, irá fundamentar a tolerância. Em rigor, todavia não

faz sentido falarmos de tolerância entre seres iguais por

natureza.Todas as convicções e ideias são legítimas porque

produto de homens livres e com os mesmos direitos. Esta posição

conduzida ao limite, termina no indiferentismo ou seja na negação

de todo e qualquer valor.

Limites da Tolerância

Até onde devemos aceitar o Outro nas suas diferenças? Pode uma

cultura sobreviver quando no seu próprio seio tolera aquelas que

defendem o seu oposto?

Razão Intolerante

Em nome da tolerância, isto é, de uma razão que combate de todos

os constrangimentos, desde o século XVIII que se cometeram

inúmeros crimes contra a própria humanidade.